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Em mais um ano, Região Central registra quebra de safra nas culturas de soja, milho e arroz em função da estiagem

Em mais um ano, Região Central registra quebra de safra nas culturas de soja, milho e arroz em função da estiagem

​​​​A colheita da soja começou neste mês e as perspectivas apontam redução média de produtividade de 36,64% na Região Central. O grão é a principal cultura dos municípios desta parte do Estado, ocupando uma área de mais de 1 milhão de hectares. As projeções, na verdade, já vinham sendo feitas desde o ano passado em função da falta de chuvas em mais um período de estiagem enfrentado em todo o Rio Grande do Sul. Agora, com a colheita, a quebra de safra2022/2023 está se confirmando não apenas para a soja, mas também para as culturas do arroz (9%) e do milho (58%).

Na Região Central, 39 municípios decretaram situação de emergência por causa da estiagem. Até o final de janeiro, os prejuízos econômicos ultrapassavam R$ 3 bilhões na agricultura e na pecuária.

O Escritório Regional da Emater Santa Maria avalia que as perdas na produtividade dos grãos são prejudiciais, principalmente, para a economia da região. De acordo com o gerente, Guilherme Passamani, praticamente todos os municípios registraram prejuízos econômicos, mas os maiores impactos estão sendo sentidos pelas cidades mais dependentes da agricultura como fonte do Produto Interno Bruto (PIB) e de renda.

- Os prejuízos variaram significativamente em porcentagem de perdas, na soja tendo prejuízos em lavouras se aproximando de 80%, algumas passando um pouco disso, na lavoura de milho, chegando a mais de 90% de perdas, e na cultura do arroz, também prejuízos chegando em torno de 20% e 30%. Essas foram as três culturas mais atingidas e isso tem um impacto econômico muito grande para a região, uma vez que é uma das maiores produtoras de grãos, principalmente da soja - explica Passamani.

O gerente ainda lamenta que os municípios tenham perdas pela estiagem em mais um ano e afirma que as consequências econômicas e sociais do fenômeno climático devem ser sentidas pelos próximos meses e até anos.

Colheitas

Na Região Central, a colheita do milho está sendo concluída, cerca de 45% do arroz e 10% da soja foram colhidos.

Em meio a estiagem, os produtores precisaram pensar em alternativas para enfrentar o período e manter a produção. Diante da falta de chuvas e de umidade do solo, o plantio da soja, por exemplo, além do tempo normal, foi feito também em um momento tardio. A colheita dessas "lavouras do tarde" deve começar no final de abril e início de maio. Em comparação com a "soja do cedo", essa área plantada posteriormente é reduzida, mas as expectativas são de uma colheita mais favorável.

- Observa-se até o presente momento uma estabilidade climática mais favorável para a cultura da soja que foi plantada mais tarde. Contudo, a previsão precisa manter chuvas espaçadas ao longo das semanas para que tenhamos uma colheita um pouco melhor do que a soja plantada mais cedo. É importante deixar claro que ambas têm grandes prejuízos, tanto a soja plantada mais cedo quanto a plantada mais tarde. O que salientamos é que a plantada mais tarde parece estar numa condição melhor na grande maioria das situações - detalhe Passamani.

Quebra de safra em cinco municípios da Região Central

Confira como está a situação de perda de produtividade em cinco municípios da Região Central do Estado: Tupanciretã, São Sepé, Júlio de Castilhos, São Gabriel e Santa Maria.

Com exceção de Júlio de Castilhos, o restante dos municípios comunicaram que as perdas na agricultura foram mais severas na safra 2021/2022 do que neste ano. Na atual estiagem, as cidades tiveram um cenário de desabastecimento de água pior que no ano anterior.

Tupanciretã

Tupanciretã é o município com maior área de soja na Região Central, com cerca de 146 mil hectares. Com a estiagem, a extensão das perdas também foram elevadas: R$ 580 milhões apenas nesta cultura, conforme dados da Secretaria de Desenvolvimento do Agronegócio e Sustentabilidade Ambiental.

A colheita começou há cerca de quinze dias e 3% da soja foi colhida. O secretário e vice-prefeito, Márcio Teixeira, relata que o último levantamento indicou que devem ser gerados 27 sacos por hectare. A média do município, em condições normais, é de 50 a 52 sacos por hectare. Com isso, a redução de produtividade da soja deve ficar em torno de 50%.

- (Nesta estiagem) houve deficiência hídrica e falta de umidade do solo, muitas áreas foram plantadas mais tarde. Não por planejamento do produtor, mas sim por estar acompanhando e ter que aguardar a devida fase de umidade do solo para que houvesse a germinação correta. Mesmo assim, houve vários problemas de germinação, de plantio com pouca umidade e não houve mais chuvas, então, muitas das áreas germinaram mas acabaram morrendo muitas plantas - reitera Teixeira.

Outra cultura de impacto, mas com uma área reduzida em comparação com a soja, é o milho. Ambas, soja e milho, somam prejuízos de R$ 758 milhões em Tupanciretã.

- Para os cofres do município isso é uma relevância muito grande. Tivemos queda ano passado, neste ano de novo, então o reflexo vai vir para o meio urbano, para as empresas, para os investimentos, para os produtores. É uma pena, ficamos tristes de estar mais esse ano com déficit, mas são coisas que não estão na nossa alçada - lamenta o secretário.

Redução de produtividade

  • Soja - 50%
  • Milho sequeiro - 80%
  • Milho irrigado - 20%

Prejuízos econômicos

  • R$ 758 milhões

São Sepé

Outro município da Região Central que estima 50% de redução na produtividade da soja é São Sepé. No total, são 73 mil hectares, sendo que 10% desta área foi colhida até o momento. Assim como em outros locais, a expectativa é que as condições climáticas favoreçam as próximas colheitas.

- A produtividade está relacionada ao clima, se as chuvas de agora deram uma normalizada para que essa soja consiga se desenvolver bem vai ter uma melhora em relação a safra que ainda vai ser colhida. Mas não é uma melhora tão grande porque como os dias vão ficando mais curtos, e o desenvolvimento da soja e das plantas depende muito da questão solar, então, isso também acaba influenciando na produtividade - esclarece Werner Ritter Wegner, extensionista rural da Emater de São Sepé. 

Após a soja, a principal cultura é o arroz, com quebra de produtividade de 15% em São Sepé devido a falta de chuva e excesso de calor. Já o milho teve grandes perdas, 80%, mas está inserido, na maioria, plantações em pequenas propriedades.

Redução de produtividade

  • Soja - 50%
  • Milho - 80%
  • Milho - 15%

Prejuízos econômicos

  • R$ 417 milhões

Júlio de Castilhos

Em Júlio de Castilhos são mais de 100 mil hectares de soja. Dessa área, 15% já foi colhida. Conforme Ana Paula Alf Lima Ferreira, secretária de Agricultura, a partir do início da colheita, já foi possível perceber que as estimativas de perdas devem se confirmar. Atualmente, a previsão é de 30% de redução de produtividade. Ana Paula afirma que o índice mais preciso deve ser calculado quando a colheita alcançar, pelo menos, metade da área plantada.

- Talvez alguns índices melhorem porque quem plantou no tarde não pegou o pior período da estiagem. Há sempre uma esperança que o índice melhore. Mas, infelizmente, temos que tratar com a realidade e hoje observamos no município que tem áreas colhendo 10, 12 sacos por hectare, assim como tiveram outros pontos, com mais chuva, que conseguiram colher 35 sacos por hectare. Júlio de Castilhos é muita extensa e as chuvas, além de serem escassas, foram esparsas. Temos localidades com divisa com Ivorá que teve maior precipitação e tivemos regiões com pouca chuva, então a produção vai ser menor - conta Ana Paula.

Redução de produtividade

  • Soja - 30%

Prejuízos econômicos

  • R$ 380 milhões

São Gabriel

Em São Gabriel, a quebra de safra 2022/2023 é menor que no ano passado, mas ainda causa impactos nas culturas de soja e milho, principalmente. Na soja, cerca de 5% foi colhido e as estimativas de perdas são de 25%. Já no milho a média de redução de produtividade é de 40%. Ambas as culturas tiveram períodos de plantio diferentes, por isso, os percentuais também podem mudar, conforme as colheitas vão sendo encerradas, a partir de maio.

- À medida que vai avançando a colheita, que começa chegar nessas lavouras mais tarde, achamos que vai aumentar a produtividade. Hoje, os colegas têm visitado e visto as lavouras produzindo de 15 a 20 sacos por hectare de soja, isso é bem baixo pensando em uma expectativa de 45/50, que é a média da região. A gente acha que lavouras que vão ser colhidas depois, no final de abril e início de maio, esse número pode chegar a 40 - informa Guilherme Coradini, chefe do escritório da Emater de São Gabriel.

Apesar da ampla extensão de plantações de arroz no município (cerca de 25 mil hectares), Coradini relata que a cultura conseguiu seguir dentro da normalidade.

Redução de produtividade

  • Soja - 25%
  • Milho - 40%

Prejuízos econômicos

  • R$ 307 milhões

Santa Maria

Em Santa Maria, cerca de 20% da soja já foi colhida até o momento. Essa cultura se estende por cerca de 50 mil hectares no município. De acordo com o secretário de Desenvolvimento Rural, Rodrigo Menna Barreto, os índices apontam 25% de redução da produtividade. O percentual ainda pode se agravar, dependendo da influência das condições climáticas na soja plantada tardiamente.

- A expectativa é colher o que tem, e o pessoal que plantou no tarde, que caiam mais algumas chuvas para completar o ciclo desse plantio e que não caia geada porque o frio prejudica a cultura também - relata Menna Barreto.

Conforme o secretário, o milho é utilizado, principalmente, como forma de subsistência em Santa Maria (2 mil hectares). O milho em grão registrou perdas de 40%, já o milho silagem alcançou 50%.

O arroz tem uma extensão mais expressiva que o milho em Santa Maria (8 mil hectares). A redução de produtividade ficou em torno de 10%. Segundo Menna Barreto, as perdas aconteceram em locais que são irrigados e houve falta de água nos momentos importantes para o ciclo da cultura.

Redução de produtividade

  • Soja - 25%
  • Milho - entre 40% e 50%
  • Arroz - 10%

Prejuízos econômicos

  • R$ 100 milhões


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